23.11.06

Enfim alguém com boas idéias


Acordem, estamos entrando em um novo mundo digital, essas gravadoras vão ser dizimadas pela internet!!! Graças a Deus, deveria ser proibido vender cultura nessa porra de mundo!!! ( Robson, 20/11/2006 - 13:06:17)
Ainda sobre esse assunto maçante que volta e meia reaparece no Opinião e Notícia: a pirataria "virtual". É sempre assim: o jornal publica uma matéria qualquer, como essa, que a Universal está processando a MySpace por "incentivar" a distribuição ilegal de músicas. Sempre aparecem uns sem-noção que dão opiniões genéricas, reacionárias e conservadoras e que ficam chamando de "jovens" ou "adolescentes" quem se manifesta contra a ordem instituída. Como se o julgamento de um jovem valesse menos que o de uma pessoa mais velha.
Mas dessa vez apareceu um leitor antecipando um conceito que eu ando ruminando, mas ainda com idéias difusas e não concatenadas.
O Robson tocou num ponto-chave. Muito além desse papo mesquinho de pirataria, ele sugere que cultura não deveria ser vendida. Nas condições atuais é maluquice pensar em algo assim, mas depois de cinco minutos pensando a respeito do tema, conjecturando como seria um mundo utópico dentro desse conceito, cheguei a algumas conclusões interessantes que me levam a crer que um mundo assim seria bem mais saudável:
  • Se cultura não será vendida, não fará muito sentido atribuir valores monetários aos quadros, músicas, CDs, e quaisquer outras expressões artísticas, principalmente aquelas que podem ser facilmente clonadas, seja por forma artesanal ou digital.
  • Se um CD de uma banda não valer mais um centavo sequer, como os músicos vão ganhar dinheiro? Bom, primeiro eles vão ter que economizar na produção dos CDs. Não faz sentido gastar uma fortuna numa produção de um CD que não gera renda direta. Sem tanta produção, as músicas gravadas nos CDs vão se aproximar mais de uma apresentação ao vivo. Quem tem talento e sabe tocar/cantar de verdade vai gravar um bom CD. Quem depende de mil equipamentos de afinação de voz, ajuste de tempo e de uma trupe de técnicos para criar uma música de laboratório terá problemas sérios.
  • Depois os músicos vão fazer como os artistas de teatro e TV, jogadores de futebol, modelos e etc: vão vender coisas, expondo seus rostinhos lindos, convencendo à sua tribo que o melhor detergente é o XYZ.
  • Como se valoriza um produto que é disponível gratuitamente? Só, e somente só, pelo seu valor subjetivo. É bom? agrada? é raro? Então vale muito. Muito o que? Vale muito a pena apreciar e divulgar.
  • Vai haver uma separação natural e gradual do joio e do trigo, digo, dos artistas de verdade e da galera que tá aí pra ganhar dinheiro fácil. Sem dinheiro grosso rolando, todo esse esquema podre que empurra em nossos olhos e ouvidos o que há de pior na cultura popular tende a murchar. Acabarão os jabás, por exemplo. Gente que se garante por conta própria continuará sua jornada de sucesso. Os picaretas que precisam de playbacks para cantar voltam pra escolinha de canto.
  • Nas artes plásticas talvez ocorresse uma revolução mais radical. Um quadro do Pollock recém vendido por centenas de milhões de dólares, valeria tanto quanto o quadro pintado pelo Macaco Tião. Ou menos, afinal o macaco joga os baldes na tela com mais desenvoltura.
  • Do que as gravadoras vão viver? Como é que os advogados que cuidam dos direitos autorais vão se sustentar? O que vai acontecer com as lojas de CDs e locadoras de filmes? Não sei. O que acontece quando uma profissão acaba? Parte-se para outra! Eles não foram tão competentes para criar essa enorme rede comercial sustentada pela cultura mundial? Usem suas criatividades para criarem outras frentes de negócio.
  • E para nós, simples terrestres? Daríamos mais um passo (bem largo) em direção ao paraíso. Você já pensou em ter toda a coleção dos artistas que você mais gosta? Você já pensou que, além desse grupinho de bandinhas de música que vc já conhece e filminhos que a Globo passa na TV, existe um mundo inteiro de cultura; que acervos de raridades, que antigamente custavam caríssimo, agora estarão ao seu dispor? É mais ou menos isso que a internet está implementando com seus sites e softwares de Peer-to-Peer, independentemente dos esperneios dos caras das gravadoras ou dos conceitos antiquados de toda uma sociedade que ainda não entendeu o potencial de melhoria de vida que está por vir.
  • Por vir, é força de expressão. Já está aí para quem quiser, para quem não tiver problemas de consciência com a tal da maldita "pirataria" que é crime, quase pecado capital, segundo uma maioria de opiniões que aparecem no Opinião e Notícia.
  • O Peer-to-Peer já está aí e vai aumentar proporcionalmente à popularização da internet, que tem muito o que crescer ainda. Posso arriscar que num prazo de 5 a 10 anos haverá tanta gente trocando mídias pela internet, que a própria sociedade terá que rever os seus conceitos e propor novas soluções, dentro da nova realidade que está aí e que não há retrocesso.